No ano passado, o país criou 1,4 milhão de empregos, uma queda de 27% ante 2022. Expectativa é de desaceleração
O primeiro ano da gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva terminou com a criação de 1,483 milhão de empregos com carteira assinada. O resultado representa queda de 27% em relação ao registrado em 2022, quando os novos postos formais atingiram 2,037 milhões, segundo dados consolidados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho.
Foi a menor geração de vagas com carteira desde 2020, no auge dos efeitos da Covid-19 e quando teve início a atual série histórica do Caged. O resultado do acumulado do ano ficou abaixo da estimativa mediana de instituições financeiras e consultorias de abertura de 1,538 milhão de vagas, segundo o Valor Data.
Também frustrou as expectativas do próprio governo. O Ministério do Trabalho previa 2 milhões de vagas.
E como será neste ano?
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, evitou fazer uma nova previsão para 2024, mas destacou que a tendência é de melhoria do mercado formal de trabalho:
— Creio que a tendência neste ano é ser melhor que no ano passado — disse Marinho, citando projetos do governo em andamento, como a retomada de obras paralisadas.
1,1 milhão em 2024
Rodolfo Margato, economista da XP, considera que o emprego formal continua sólido. As contratações cresceram 1,2% em dezembro, para 1,935 milhão, nível considerado alto. Por sua vez, os desligamentos subiram 1,8%, para 1,882 milhão, patamar mais elevado do último ano:
— Este aumento veio acima do esperado, explicando a diferença entre a nossa projeção e o resultado observado no saldo total em dezembro. Mas o aumento do emprego formal continuará a apoiar o consumo das famílias em 2024. Prevemos criação de 1,1 milhão de vagas neste ano.
Para Fabiano Zavanella, sócio do escritório Rocha, Calderon e Advogados Associados, na comparação com o desempenho em anos anteriores, afetados inclusive pela pandemia, o dado de 2023 é ruim e não há sinais de melhora significativa em 2024.
— O aumento de custos e de burocracia prejudica a capacidade de geração de empregos formais em setores como comércio e serviços — disse Zavanella, reforçando que a indústria já vem fechando postos de trabalho.
O economista João Savignon, chefe de Pesquisa Macroeconômica da Kínitro Capital, destacou que há uma desaceleração gradual, mas que o mercado formal de trabalho continua aquecido:
— O melhor momento do emprego formal ficou para trás, mas ainda estamos longe de ver um mercado de trabalho fraco neste ano.
Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados consideram os trabalhadores com carteira assinada, e não incluem os informais. Com isso, os resultados não são comparáveis com os números do desemprego divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continua (Pnad) e cujos resultados sairão hoje.
Serviços geram mais vagas
Segundo o Caged, o emprego com carteira assinada no ano passado foi puxado pelo setor de serviços, que respondeu por 886.256 postos. Os subsetores que mais contrataram foram informação, comunicação, financeiro, imobiliário, atividades administrativas, serviço público, educação e saúde.
A estudante de Engenharia Civil Solange de Almeida, de 26 anos, foi contratada em novembro de 2023 como assistente administrativa em uma empresa de construção em São Paulo. A princípio, ela se candidatou a uma vaga de estagiária, mas surgiu a oportunidade de trabalhar como funcionária com carteira assinada. Agora, pretende terminar os estudos e continuar na empresa:
— Teve essa oportunidade da vaga como CLT e eu abracei. Sou formada em Administração desde 2019, mas agora pretendo trabalhar como engenheira.
A indústria apresentou a maior queda na geração de empregos em relação a outros setores. Foram abertas 127.145 vagas no ano passado, contra 251.868 em 2022, recuo de 49,5%. Para o ministro do Trabalho, o parque industrial brasileiro precisa de investimentos para voltar a gerar emprego de melhor qualidade em relação à duração dos contratos e à remuneração.
Em dezembro, salário médio de admissão foi de R$ 2.026,33, com leve redução de R$ 6,52 quando comparado com o valor corrigido de novembro (R$ 2.032,85).
A paulista Rafaela Santos, de 25 anos, foi contratada como assistente comercial em maio do ano passado em uma empresa de logística. Na ocasião, ela estava há dois meses desempregada. Com remuneração inicial de R$ 2.500, ela conta que passou a receber cerca de 50% mais do que no antigo emprego e deu uma guinada na sua carreira:
— Antes de entrar na empresa, já me interessava pela área comercial, mas nunca tinha trabalhado com isso. Logo me identifiquei muito e comecei a estudar — disse Rafaela, que começou uma faculdade de Gestão Comercial no segundo semestre do ano passado.
A carioca Julia Filgueiras, de 21 anos, trabalha como assistente de conteúdo digital em uma empresa de entretenimento desde abril de 2023, quando foi efetivada em seu estágio. Agora, sua meta é continuar trabalhando com carteira assinada e terminar os estudos:
— É um pouco difícil achar vagas CLT na área de entretenimento, ainda mais em cargos mais altos. Os benefícios me dão uma segurança. Mesmo que eu ganhe mais em outro lugar, prefiro ter um emprego com carteira.