Pagamentos de dívidas irão retomar apenas daqui um ano, com impactos positivos na economia real, gerados pelo aumento do emprego e da renda nos próximos meses, segundo especialistas
São Paulo – Os consumidores só devem se voltar para a recuperação de crédito em setembro de 2018, quando começarem a sentir os efeitos positivos no emprego e na economia real. Até lá, bancos e empresas de cobrança seguem flexíveis e abertos à renegociação de dívidas.
Os últimos dados do Banco Central apontam que as concessões de recursos para a composição de dívidas de modalidades distintas caíram 24,9% em agosto deste ano frente a igual período de 2016, de R$ 2,534 bilhões para R$ 1,901 bilhões.
Desde dezembro de 2015 (R$ 3,229 bilhões), no entanto, o recuo chegou a 41,1%.
O motivo, segundo o sócio da Itapeva, Renato Toledo, é a falta dos reflexos na economia real. “Estamos vivendo um cenário de expectativa positiva, de queda de juros acontecendo e de crédito começando a voltar, mas a economia real ainda não respondeu com tanta força para conseguir impactar as nossas curvas de recuperação”, comenta o executivo.
Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, indicam para uma taxa de desocupação ainda alta, de 12,6% no trimestre móvel encerrado em agosto, nível 0,8 pontos percentuais superiores ao observado em iguais três meses de 2016, quando estava em 11,8%.
Neste sentido, Toledo pondera que mesmo que as perspectivas para o ano que vem sejam positivas, o consumidor deve demorar de seis a nove meses para se voltar mais fortemente para a renegociação de crédito.
“As pessoas são muito menos influenciadas pelas expectativas futuras do que pela economia real. Mesmo com maior facilidade de pagamento, só vai aceitar o acordo quem tiver condições”, acrescenta o executivo.
Em relação à facilidade de pagamentos, por sua vez, a economista-chefe do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), Marcela Kawauti, reforça que ainda que “saindo do fundo do poço” a situação atual exigirá maior flexibilidade dos bancos e das empresas de recuperação de crédito.
“Ainda é um patamar de renda deprimida e desemprego alto. É preciso que os credores estejam abertos à situação, porque só assim há a chance de pagamento da dívida”, analisa a especialista, mas ressalta que, no entanto, o pé atrás por parte de bancos é “natural”.
“Essa cautela existe e continuará ao longo de 2018, principalmente porque o risco de inadimplência ainda é elevado. Mas olhando para o futuro, mesmo com inadimplência ainda alta agora, os bancos já começam a liberar o crédito de forma comedida porque enxergam um cenário positivo”, explica Kawauti.
Ainda de acordo com os dados do Banco Central, as concessões já demonstraram altas significativas em agosto, frente a igual mês de 2016, de R$ 267,6 bilhões para R$ 281 bilhões, volume 5% superior.
A inadimplência, por outro lado, manteve-se no patamar de 3,7% na mesma relação.
De acordo com o diretor de gestão de varejo da Recovery, Mauricio Teramoto, com o ambiente difícil, as empresas de recuperação de crédito também aumentaram a flexibilidade das negociações.
“Mesmo com o trabalho de ser mais flexível ao longo da crise, porém, conseguimos manter o fluxo de pagamentos como eram, mas não aumentamos. De qualquer forma, vemos um ambiente bastante positivo à frente, principalmente porque para cerca de um terço dos clientes, o foco é voltar a consumir”, aponta.
Os especialistas, porém, ponderam a necessidade de um processo de educação financeira do consumidor.
Em níveis de inadimplência, por exemplo, os calotes subiram 0,5 ponto percentual em agosto contra igual mês de 2016, de 17,6% para 18,1%.
“A impressão é que o movimento de renegociação se intensifique, mas é preciso que os consumidores não fiquem passivos quanto a sua condição. Dependendo da situação em que se encontra a dívida e do credor que a cobra, a redução pode chegar até 70% de desconto na negociação”, avisa o advogado Sebastião Rangel, sócio da S.F. Araújo Castro Rangel Advogados.
Pessoas jurídicas
Ao mesmo tempo, os especialistas consultados pelo DCI afirmam que o cenário para as pessoas jurídicas também tende a ficar mais positivo ao longo de 2018, conforme o ambiente de consumo melhore.
Segundo dados do BC, as concessões de crédito para empresas subiram 2,3% em agosto frente ao mesmo mês de 2016, de R$ 116,8 bilhões para R$ 119,5 bilhões.
Segundo o diretor de estratégia da Rocha, Calderon e Advogados Associados, Akira Sato, há bastante espaço para a renegociação de empresas.
“Os bancos estão bastante empenhados nesse cenário porque sabem que a recuperação pelo consumo tem um limite. Apesar de ainda conservadores, com o atual cenário, a renegociação de dívidas com empresas também deve alavancar em 2018”, conclui.
Entrevista concedida por Akira Sato, advogado do Rocha, Calderon e Advogados Associados, à Isabela Bolzani, do jornal DCI