Câmeras em uniformes de seguranças ajudam empresas a solucionar conflitos e em investigações

By 6 de março de 2024Notícias

Enquanto as regras sobre o uso dos equipamentos pelas polícias ainda estão em discussão, a demanda na iniciativa privada só cresce. Uma empresa de segurança registra aumento de 20% ao ano nos pedidos. A qualidade de áudio e vídeo exige maior cuidado com a privacidade.

Quatro criminosos entraram em uma loja de celulares dentro de um shopping em São Paulo. Ao verem dois seguranças se aproximando, eles fugiram levando os aparelhos.

Os vigilantes, cada um em um veículo de duas rodas, passaram a perseguir os quatro pelos corredores e pelo estacionamento do centro comercial.

Toda a ação foi filmada e transmitida em tempo real para a central de monitoramento pelas câmeras acopladas no uniforme dos seguranças.

Cada um foi para um lado, nós conseguimos abordar um deles. Por uma estratégia de inteligência interna, conseguiram descobrir os outros três, e eles também foram detidos.

Quem conta é o porta-voz da empresa de segurança Verzani & Sandrini, que presta serviço para o shopping center, Renato Rosseto:

Como tinha toda a sequência das imagens gravadas, serviram inclusive de prova para autoridade policial realizar o indiciamento, para não dizer que não eram as pessoas que estavam roubando a loja.

Enquanto são motivo de amplo debate na esfera da segurança pública, as câmeras corporais também vêm ganhando adesão na iniciativa privada.

A empresa de segurança Verzani & Sandrini diz que a procura tem crescido 20% ao ano. Atualmente, 30% a 40% dos clientes, como shopping centers, hospitais, indústrias e centros logísticos, usam os equipamentos.

Como funciona nas empresas?
Em novembro do ano passado, o grupo Carrefour concluiu a implantação de 4 mil câmeras nos uniformes de 6 mil fiscais próprios e seguranças terceirizados. De julho a dezembro, os incidentes caíram 30%.

O diretor-executivo de Transformação do Carrefour, Marcelo Tardin, diz que as imagens e áudios ajudam a solucionar principalmente discussões entre funcionários e clientes:

Um cliente que reclamou com o diretor de loja que o colaborador foi rude ou o xingou, por exemplo. Esse é um dos casos comuns de discordância verbal. A gente consegue ouvir imagem e som e perceber quem começou a agressão, quem subiu o tom de voz, quem xingou quem primeiro.

A partir da análise das imagens, a empresa toma atitudes que podem passar pela reciclagem dos funcionários ou até a demissão, nos casos mais extremos.

Prós e contras
A segurança Márcia de Brito Galvão, que trabalha como vigilante em um banco, concorda que as câmeras podem ajudar a proteger o próprio profissional:

Algumas vezes somos questionados sobre a nossa forma de tratamento e muitas outras coisas. Falam que fomos mal-educados, que deixamos de ser profissionais. São várias situações que ocorrem, então seria um ponto positivo na área da segurança até para a nossa defesa.

Já o segurança Márcio Santos, na área desde 2016, teme uma possível falta de privacidade:

Tira muito a privacidade da gente, então eu acho desnecessária a câmera. Mas, se for, tem que usar, infelizmente.

As empresas realmente têm o direito de determinar o uso dos equipamentos pelos funcionários, como parte do uniforme.
O professor Fabiano Zavanella, membro da Comissão de Advocacia Trabalhista da OAB São Paulo, ressalta, no entanto, que o empregador deve garantir a privacidade e deixar claro na política interna o objetivo do monitoramento:

Quando o empregado utiliza o banheiro ou eventualmente o vestiário ou quando ele vai sair para o seu almoço no refeitório. São espaços de maior privacidade e que, portanto, não devem ser filmados em nenhuma hipótese. Isso tem que ficar muito claro nessa comunicação que é feita pelo RH, que tem a sugestão do jurídico, cuidados de proteção de dados e algum tipo de supervisão para que esses empregados não se esqueçam de tomar todos esses cuidados.

Assim como no monitoramento de ambiente, as empresas devem proteger as imagens produzidas pelas câmeras corporais, que em geral são descartadas depois de 30 dias.

O registro não depende de autorização dos consumidores. Em caso de vazamento, as empresas podem sofrer punição na esfera civil ou até criminal, dependendo das consequências.